segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fugindo de Deus

Nenhuma fuga de Deus dura para sempre, quando aquele que foge é alguém que o conhece. É melhor viver como um ateu alienado de Deus do que como um cristão fugindo de Deus. As conseqüências práticas do ateísmo e do paganismo são menos dramáticas do que aquelas que atingem a vida dos que estão num processo de fuga de Deus. A existência se torna inimiga dos servos de Deus em desobediência. Não há ninguém mais sujeito ao azar na vida do que um servo de Deus consciente da sua vontade e em processo de fuga de Deus.

“Então os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus, e lançavam ao mar a carga que estava no navio para o aliviarem do peso dela”.

Jonas tenta fugir de Deus e cai dentro de uma fervorosa reunião de oração. Talvez em navio nenhum do mundo se tenha orado tanto quanto naquele navio em que se encontrava Jonas. Ele descobre fé entre os pagãos “como nem em Israel”. Já ouviu isso antes? “Nem em Israel achei fé como esta”!

Na tentativa de fugir de Deus, tudo fala mais de Deus do que na tentativa de obedecer-lhe. Todavia, o ouvir de Deus em desobediência é um ouvir apavorado. Os marinheiros estão em pânico. Preces de desespero são erguidas aos céus.

“Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente”.

No texto da versão grega do Velho Testamento, chamada de Septuaginta, se diz que Jonas não só dormia, mas “roncava profundamente”. Ele foi capaz de abandonar a mais fervorosa reunião de oração da sua vida e afundar-se em lânguido sono. Isso porque a desobediência à vontade de Deus elimina sempre a vontade de viver. Quem acha a vida, perde-a. Quem a perde, acha-a. Quem conhecendo a Deus não lhe faz a vontade acaba perdendo a vontade de viver. Esta é, sem dúvida, uma lei existencial realmente irônica: enquanto os pagãos ansiavam por viver e lutavam com raça e garra por sua vida, Jonas se auto-sepultara num sono de desistência da vida.

“Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu Deus; talvez assim esse Deus se lembre de nós para que não pereçamos”. (Jonas 1:6)

O estado de alienação da vontade de Deus torna Jonas menos humano e menos cristão do que os pagãos. Eles lutavam pela vida; Jonas dormia. Eles invocavam cada qual o seu deus; Jonas não tinha prece em seus lábios, estava totalmente silencioso. Ele é o típico líder cristão, pastor, teólogo, profeta, ou líder natural na comunidade que desaprendeu a possibilidade da oração, cerrou os lábios, ficou mudo, sem preces. Os pagãos do navio eram mais sensíveis aos sinais dos tempos do que o cristão Jonas. Eles não interpretavam a tempestade como um mero fenômeno natural; sabiam por intuição que havia algo alienígena naquela tempestade. Por isso, diziam uns aos outros:

“Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas”. (Jonas 1:7)

Jonas perdera totalmente a consciência de que o mundo espiritual também funciona à base da lei de causa e efeito. No entanto os marinheiros pagãos pareciam saber com muita clareza que ninguém foge de Deus impunemente. A sorte é lançada, e o azar é de Jonas. Descobre-se que o homem de Deus era a causa da desgraça. Sua vida atraíra maldição sobre todo o grupo.

Preste atenção nisto: homens de Deus em fuga de Deus trazem maldição aonde quer que vão. Também uma igreja alheia à vontade de Deus é instrumento de desgraça para a sociedade.

Trecho do livro "Jonas: O Sucesso do Fracasso" do Caio Fábio.

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