domingo, 17 de abril de 2011

O Código Florestal, os ruralistas e a realidade fora da TV

Não quero fazer aqui frente de oposição gratuita. Prefiro antes ouvir os dois lados nos diversos assuntos da vida, isso inclui a questão das alterações propostas no Código Florestal brasileiro. Mas fatos são fatos. Assim como eu, os cientistas, especialistas (como engenheiros florestais e agrônomos), e ambientalistas em geral têm seus argumentos - concretos - contra a mudança.

Segundo eles, há no país cerca de 60 milhões de hectares de terra degradados, que, se recuperados, podem ser utilizados para a produção agrícola, a partir de práticas condizentes com a agricultura sustentável. Além disso, os cientistas acreditam que as atividades pecuárias do Brasil podem ser expandidas a partir do aumento da quantidade de cabeças de gado por hectare de terra. Os especialistas ainda defendem a aplicação do Código Florestal em áreas urbanas, alegando que a ocupação em encostas e áreas de várzea é a principal responsável pelos desastres ambientais que atingiram, recentemente, diversas regiões brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro.

Acredito que o Código necessita de uma revisão e aperfeiçoamento, mas não dessa maneira, elaborada por políticos que sequer se dispõem a ouvir quem tem algum conhecimento técnico da área, colocando em jogo somente questões politicas e pessoais, que visam na maioria das vezes benefícios próprios. E no caso dos deputados e senadores ruralistas isso significa uma coisa: visam mais lucro. Claro que lucros imediatos, pois a longo prazo estão semeando o próprio infortúnio. A luz de sua ignorância, não vêem que as APPs (Áreas de Preservação Permanente) e Reservas Legais devem ser mantidas inclusive para garantir a prosperidade das atividades do setor agrícola. Não enxergam mais longe que a produtividade do ano seguinte.

Estive presente no manifesto contra a mudança do código florestal no dia 7 de abril de 2011, em Brasília, o qual sequer foi divulgado pela grande mídia, a não ser por alguns raros e pequenos canais e jornais. Diferente do ocorrido com o gigantesco "projeto de manifestação" dos ruralistas com cerca de 12000 pessoas realizado dias antes, onde prováveis 90% nem sabia o que estava fazendo lá, pois representavam só em volume os latifundiários. Não me admira que tenham sido pagas quantias mequetrefes - além das passagens de ônibus e alimentação - a essas pessoas só para fazer um alvoroço em frente ao congresso, e assim, passar à sociedade, através da mídia, uma imagem falsa do posicionamento da maioria dos agricultores sobre a mudança. Um absurdo, levando em conta que os movimentos que representam (e nesse caso falo de uma representação genuína) os agricultores familiares e camponeses são contra as alterações propostas, reconhecidamente fornecedores da maior parte dos alimentos que vão para as mesas dos brasileiros, visto que grande parte da produção das monoculturas latifundiárias é voltada à exportação.

As últimas notícias infelizmente vem confirmando que a mobilização da sociedade é pequena frente a grande união - e investimentos milionários? - dos ruralistas pela mudança do Código Florestal brasileiro. O máximo que as pessoas parecem estar dispostas a fazer é colocar uma hashtag nos "trending topics" do Twitter em solidariedade a essa luta contra a mudança. Revoluções mesmo, nesses tempos, parecem só ocorrer no Oriente Médio. Deus tenha piedade de nós, pelas futuras desgraças que podem ocorrer devido a essa atitude cega dos nossos políticos escolhidos pelo voto popular. Indiretamente é o desejo do povo, então que assism seja o retrocesso.

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