quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Orar ou Beijar?

As coisas espontâneas são sempre mais gostosas, elas dão um sabor diferente à vida. E em se tratando das coisas do coração, mais ainda.

A gente nunca espera que vá encontrar de repente, da forma mais inusitada, num evento qualquer, aquela pessoa que vai deixar nossos instintos mais aguçados, nosso corpo acelerado e a mente admiravelmente vívida a fim de nos proporcionar a aproximação até esse alguém.

Nas coisas do amor , é sempre melhor quando acontece assim. Jacó encontrou a Raquel enquanto esta tirava água de um poço. Não se conteve, beijou-a. Imprevisível, oportunista como só ele sabia ser, não se furtou em demonstrar desde o início seu afeto por aquela que foi seu amor maior durante toda a vida.

Contudo, nem sempre é assim. A espontaneidade vez e outra é aviltada por acordos e formalidades. Foi assim quando dos casamentos arranjados. Verdadeiras prisões para aqueles que não se amavam. Ou mil vezes pior: amavam outro alguém!

A formalidade adentrou mesmo nas igrejas cristãs! Não sei onde surgiu tal pensamento, mas em algum lugar alguém teve a “bendita” idéia de que haveria de se orar antes de começar a namorar. Fazia-se necessário saber a vontade de Deus. Não poderíamos correr o risco de nos relacionar com alguém não escolhido para nós. Uma espécie de predestinação amorosa...

Eu mesmo cheguei a comprar essa idéia, infelizmente. Tanto que durante um tempão da minha adolescência e juventude fui um tosco paquerador. Essa história fez muita gente desaprender a namorar. A oração se tornou xaveco malfadado de crente.

E desse jeito, não há espaço pra conquista, para a sedução e para a doce poesia exalada dos poros dos amantes. O bom e velho jogo da conquista cedeu vez para uma “espiritualização” da vida afetiva dos jovens.

Orar a Deus diante das nossas escolhas, falar com ele sobre nossos passos, pedir que nos direcione, tudo isso é muito bom e eu também quero sempre agir assim. O grande problema era a forma preestabelecida para que Deus mostrasse seu querer.

O mais complicado disso é a atmosfera de censura diante dos namoros que não percorressem a via imposta pelos líderes. Namorar sem seguir esses passos era quase o mesmo que estar em pecado.

Supostamente, se Deus tem alguém destinado exclusivamente para a gente, de certo ele vai preparar tudo a fim de que não erremos a pessoa, e caiamos logo nos braços de nosso amor sem interferência alguma. E é muito importante se preocupar com os “laços do inimigo” – isto é, pessoas que o diabo coloca em nossas vidas para nos desviar dos planos divinos.

Com isso, a “neura” atingiu a galera. Quem leva a sério aquilo que diz crer, devido à falta de entendimento sobre o assunto, vai cumprir direitinho o que lhe é ensinado. E se não cumpre, imputa a si mesmo as penas psíquicas merecidas pela transgressão.

Comportamento doentio, envolvimento amoroso sem beleza, dificuldade de se relacionar, isso e muito mais tem marcado alguns homens e mulheres evangélicos.

Na minha vivência em comunidades cristãs desde a infância, detectei algo que tenho chamado de síndrome da menina ou do menino crente.

E com a mulher é bem mais grave. Sofrendo desta síndrome, na espera do príncipe encantado e cristão, portador de um estereótipo irrepreensível, quase que sobre-humano, isento de pecados e, ainda por cima, tendo que ser de sua denominação, as jovens mais rigorosas acabam por ficar escanteadas nas suas comunidades de fé e na vida em geral.

São aquelas que a gente chama de “as solteironas” das igrejas. Geralmente mulheres um tanto já amarguradas, de difícil trato, já algum tempo dadas às fofocas (nem todas, mas muitas, visto que a vida dos outros possui mais emoção que a delas), de quadro progressivamente agravado devido à proximidade da casa dos trinta anos.

Qualquer mulher não-neurotizada pela religião, engajada em sua vida profissional, certa de sua beleza e simpatia, tranquila quanto a si mesma, não viveria os dramas encontrados entre as jovens das igrejas. Isso porque elas se permitem ser cantadas, se permitem relacionar, acreditam que devem dar a si mesmas a chance de ir em busca da felicidade.

Com os homens a gravidade talvez esteja em outros aspectos. A porcentagem de jovens evangélicos envolvidos com algum tipo de pornografia é enorme. Qualquer pesquisa honesta realizada nas igrejas revelará o grau de envolvimento e recorrência a esse tipo de escape psíquico-emocional.

Mal compreendedores de sua sexualidade e do que é um relacionamento amoroso saudável, os meninos acabam por se “guardar”, restringindo seu envolvimento, e muitas vezes – à semelhança das jovens – tendo expectativas ilusórias acerca da “prometida”, eles acabam por lançar mão daquilo que tem em maior abundância na internet: a perversão encontrada no sexo fácil e virtual.

A espera é longa e o que se espera pode bem ser uma miragem, não um oásis. Daí nunca encontrarem a pessoa ideal.

E tudo isso porque a sexualidade quase sempre foi um problema para o cristão. Desde a Igreja Católica aos atuais evangélicos, o sexo é tratado como tabu, o prazer como pecado; e com isso, a espontaneidade como tentação.

O que durante muito tempo trouxe um falso alívio aos católicos foi a ausência do sexo nas mensagens dos sacerdotes e o espírito do “não-praticantismo” muito frequente entre os que se denominavam católicos. Isso tem acabado com o crescimento dos movimentos de renovação e ressurgimentos de padres mais atualizados que têm produzido um movimento paralelo ao pentecostalismo evangélico.

Seria bom que os jovens cristãos continuassem a orar para namorar, mas que já cheguem diante da pessoa amada “orados”. Que falem com Deus desde o primeiro momento em que mirarem o alvo de seu afeto. E acreditando na inteligência, bom senso e prudência dispensados por Deus.

Confiando ser aquela pessoa alguém de valor, que partam pra cima!

Não adianta espiritualizar as coisas. Tudo já é espiritual para quem abriu seus olhos e percebeu que o mundo em que vivemos está intimamente ligado às dimensões espirituais. De forma que comer, beber, beijar e fazer amor é tão espiritual quanto orar, meditar e fazer caridade.

Por: Humberto Ramos (o novo colaborador do blog)

13 comentários:

- débora nunes disse...

Oi Diego. Gostei muito do seu blog. Concordo com você. Também percebo isso.

Há uma certa "demonização" da sexualidade, do cuidado ao corpo, do estudo crítico da Bíblia...

Acho que a Igreja de Jesus perdeu um pouco o equilíbrio emocional... há muita gente doente emocionalmente nas comunidades cristãs.

Olho pra alguns casais na igreja e chego a pensar que eles são 'assexuados' (sacanagem... rs). Esse tratamento dado ao sexo na igreja deve inclusive 'atrapalhar' o casamento de muita gente.

Só pra constar a moça da foto que você tirou morreu esses dias com 91 anos de idade...

Paz!

Bruno Nogueira disse...

Essa foto é muito massa! Minha mãe tem ela num quadro.
Isso foi no final da segunda guerra mundial, em clima de euforia, na times square!
Estive lá quando namorava, com a minha namorada, mas nem pensei em tirar uma foto assim, acredita?
Brilhante idéia, no momento errado! Prometo realizar com a minha esposa =)

Jéssica R. disse...

Poooxa, muitoo bom esse post!
Euu posso "colar" no meu blog???
ihihsioas X)
Ahh, seu blog continuaaa muito interessante!
Bjs, Fique com Deus! :*

Anônimo disse...

Nossa, eu sempre tive essa duvida... Deus já escolheu alguém para mim? Devo namorar pessoas com a mesma fé que eu?

Confesso que após seu post fiquei ainda mais confusa, mas percebi que muitas vezes não estava me deixando ser cortejada! Agora fica a dúvida!

Diego Ruas disse...

bom mesmo não sendo o escritor do texto vou tentar reponder sendo o "dono" do blog.. Heheh

Jéssica: Pode postar sim.. com certeza o Humberto fica feliz quanto mais o texto é "espalhado" (mas coloca tb o nome dele e o link daqui beleza??)

Diego Ruas disse...

Anônima: Não ficou bem claro pra mim qual a sua dúvida.. mas vou tentar responder.

Eu, particularmente, não acredito na predestinação amorosa. Pra mim o amor é uma escolha que se faz todos os dias. Assim como a vida agente vive um dia de cada vez.

Mas sei que Deus conheçe o seu coração e sabe que tipo de pessoa seria melhor pra vc.

Só não engane o seu coração dizendo que Deus falou que era tal pessoa, enquanto era na verdade o seu coração apaixonado falando com vc

Acho que o melhor tipo de relacionamento começa na amizade.. então vá com calma e aja com sabedoria. E outra.. tb acho q o homem deve tomar a atitude, mas é coisa de criança as mulheres "dificultarem" só pra fazer doce

Quanto a namorar pessoas que não são da mesma fé.. cada caso é um caso né, não conheço o seu. Não é proibido, mas é mais complicado. São formas diferentes de ver o mundo. Uma hora dá conflito. Porém uma coisa não se deve: entrar na relação querendo mudar a pessoa, "converte-la". Se vc a ama de verdade, então a ama como ela é. Se vc quer entrar num relacionamento pra muda-la então esquece.. vc está fazendo a coisa errada, pois não a ama!

Não quero te falar o q vc deve fazer.. mas espero q com esses conselhos vc faça a melhor escolha

Enfim.. ore a Deus pra te dar sabedoria, pois ele é quem sabe de todas as coisas!

Um bjo

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Diego,

Diante das respostas que você deu, nem me sinto com a necessidade de complementar nada...

Mas seria bom se a "anônima" conversasse conosco acerca de suas dúvidas. Assim, além podermos responder com mais objetividade, quem sabe até escrevamos outro artigo sobre o tema requerido.

Abraços fraternos a todos.

Michele Farias disse...

Realmente esse tema é muito polêmico, principalmente entre os jovens. O Humberto relamente escolheu as palavras certas pra falar sobre a conquista, meus pais, meus pastores tiveram uma história de amor assim. Um conquistando o outro troca de olhares e hoje parece que se você olhar já esta em pecado. É realmente muito complicado, não me lembrava da história de Jacó, achei uma otima sitação, pois assim podemos realmente comparar e ver que não é pecado, devido ao resto da história de amor entre ele dois. É uma linda história.

E Humberto já que vem aqui ler os comentários, parabéns!

Anônimo disse...

Olá pessoal!
Gostei da forma que este assunto tão polêmico foi abordado.
No entanto, faço a seguinte observação: os jovens que não se aderem a essa "predestinação amorosa" acabam dando brecha para a libertinagem.
Me refiro ao "ficar" ... enquanto não encontro a pessoa certa, eu passo o tempo com a errada! rs
E isso é outro perigo que estamos sujeitos.
É o mesmo que brincar com o sentimento ou simplesmente usufruir da pessoa para satisfazer uma vontade.
Por isso, a oração e a não precipitação continuam sendo a melhor forma de ir em busca da felicidade e, de fato, encontrá-la!
Um abraço!

[in off]

Diego Ruas disse...

Ótimo comentário Michele!!..

Quanto ao anônimo.. como assim da brecha pra libertinagem?
acho q o que falta nas pessoas é o equilibrio.. ou elas se submetem a uma opressão pra namorar só se for dentro desses "rituais", ou partem pra "pegar geral"..

Eu disse q orar é necessário, não desconsiderei isso.. mas um orar diferente do proposto nesses rituais desnecessários e que acabam com o processo de conquista e espontaniedade!

Não é necessário acreditar na predestinação amorosa pra não sair ficando com todo mundo por aí. É necessário ter equilibrio isso sim! E eu falo pelo meu exemplo! Hehehh

Mas valeu pelo comentário.. entendo seu ponto, afinal é um assunto polêmico! (aguardem q farei um post sobre esse tal equilibrio)

Abração

Anônimo disse...

Eu concordo com o que vc disse, diego!
Só quis abordar sobre o outro extremo deste assunto...
E com certeza a melhor maneira de lidar com isso é o equilíbrio!
Aguardo o post a respeito.

Abs e que Deus o abençoe!

[in off]

Diego Ruas disse...

Poxa anônimo.. desculpa se pareceu de alguma maneira que eu te entendi errado.. não quis ofender de maneira alguma!

Seu comentário complementou o que eu queria dizer, mas tinha que falar o que falei pra, se alguém q leu o texto e pensou nesse extremo q vc falou, pensasse então duas vezes! Heheh

Em breve postarei sobre o equilíbrio! Te espero devolta ai nos coments.. té mais então!

Abração e fica na Paz todo mundo aew!

Anônimo disse...

Realmente, ao ler o texto eu tb pensei no outro "extremo" do assunto... huahua Concordo quando vc diz que tem certos tipos de imposições na igreja que prejudicam nossa visão de Deus para a nossa vida sentimental e isso pode afetar de forma até psicológica principalmente as moças, deixando-as solteironas... Só vou ser sincera em uma coisa, a pessoa que postou deveria ter abordado a continuação dessa história e entrado mais pela palavra pq ao ler tb me veio esse outro "extremo" falado pelo anonimo... Por exemplo, Jaco "achou" raquel no meio de sua parentela, daí descartasse o jugo desigual como a menina questionou em um comentário que li... 2º Jacó passou 1 mês com labão se tio, tempo para observar Raquel e poder tomar a atitude que ele queria quando o seu tio lhe propôs um "pagamento" pelos seus serviços e ele disse que poderia trabalhar 7 anos por Raquel, ou seja estava disposto a esperar pq sabia o que queria teve certo tempo para observar segundo os costumes e tradições de seu tempo... Mas houve um tempo de espera, houve uma observação de Jacó... É legal uma "corte" (termo antigo sei ¬¬') de um rapaz com a moça e a aceitação dela maaaaas devemoos ter cuidado pq nem todos temos a mesma cabeça para ter um "equilibrio" e a bíblia diz que devemos suportar os mais fracos, que devemos evitar escandalos... Tal espontaneidade, para um adolescente dentro da igreja de hoje que mal educa seus jovens para a vida emocional pode causar um "ficar" ou um pensamento de NAMORO DESCARTÁVEL ou seja, "namora rapaz, se não der certo não deu, termina e arruma outro (a)!" Do mesmo jeito que ficar solteirona pode causar problemas psicológicos, relacionamentos mal sucedidos por precipitações tb... Podem deixar pessoas feridas, machucadas e com traumas de se relaicionar denovo, pricipalmente se estas ainda são novas na fé (ex:) não tem conhecimento ou base de uma vida cristã. Não esquecendo também que o beijo era um tipo de saudação comum entre familiares judeus, enão esquecendo tb que Jacó vinha de uma situação de extrema pressão, afinal vinha fugido... Imagine a tamanha emoção que teve ao saber que finalmente tinha conseguido encontrar um parente seu depois de ter cruzado um vale como Jaboque? Claro que dalí tb surgiu um sentimento de Jacó por Raquel mas houve tooda uma situação, não pode-se dizer que ele simplesmente viu Raquel e já saiu beijando por uma expontaniedade romântica... O sentimento de Jacó tb pode ter aumentado pela observação da pessoa que Raquel era afinal diferente de lia que tinha olhos tenros (que quer dizer fracos) Raquel era de semblante agradável ou seja, disposta! Animada! Houve um tempo para Jacó observar isso... Tudo em Deus é constuido em alicerces, sobre a Rocha que é Cristo e Representa um alicerce. Concordo com a "sedução", "aproximação romântica" mas temos que ter cuidado na abordagens desses assuntos pois estamos falando da palavra de Deus, temos que ter cuidado pq mesmo na net. Tamos pregando, sendo usados por Deus. Não podemos deixar dúvidas, como ficou na cabeça da menina. Pode até alguém ter um pensamento contrário ao nosso. Mas não dúvidas daquilo que falamos. Mas gostei muuuito do tema abordado. Que Deus continue te abençoando.
Fik na paz!