quinta-feira, 24 de março de 2011

O Falso Altruísmo

O altruísmo verdadeiro existe? Esse é um dos grandes debates da biologia contemporânea. O gesto desinteressado do verdadeiro altruísmo parece ser uma impossibilidade evolutiva. Um comportamento só pode ser qualificado de altruísta se ele traz benefícios para os outros e custos para quem o pratica, o que é diferente de generosidade e solidariedade, por exemplo. Ou seja, o altruísta está diminuindo sua aptidão para favorecer a dos outros. Suas chances de sobreviver e de reproduzir são menores, enquanto todos os demais – inclusive os egoístas – levam vantagem. Isso pode ter a ver com o fato de que, quando os grupos competem entre si, aqueles com mais indivíduos altruístas são mais bem sucedidos, porque há uma maior cooperação. Porém, individualmente a longo prazo, o altruísta deveria ser levado à extinção, deixando o campinho livre para que o egoísmo cresça como erva daninha.

A ciência nunca responderá a essa questão de forma definitiva. Porque ela não tem as ferramentas para decompor as motivações humanas e chegar a uma resolução final. Talvez para os cientistas mais extremistas e um tanto fundamentalistas, como Richard Dawkins em sua quase bíblia para ateus "Deus um delírio" ou em seu outro livro "O Gene egoísta" (onde prega que o altruísmo verdadeiro não existe), tudo isso seja mero fruto de fenômenos químicos e físicos, motivados por uma necessidade egoísta de recompensas neurológicas, psicológicas e sociais, mas essa é uma forma extremamente deselegante e triste de se ver a vida da qual eu não compartilho. Os céticos dizem: “Arranhe um altruísta e verá um egoísta sangrar”, mas as causas do comportamento humano são tão complexas e variadas que reduzir um comportamento complexo como o altruísmo a uma molécula ou gene ou área do cérebro é inviável. Poderia citar aqui muitos exemplos de altruísmo que eu, na minha modesta opinião, considero verdadeiro. Por que alguém sacrificaria a própria vida pelos outros enquanto outros nunca sonhariam fazê-lo? Tal comportamento existe ou não? Essa definitivamente não é a melhor pergunta, mas sim quando esse comportamento altruísta é verdadeiro e quando ele é falso, do tipo "uma mão lava a outra".

Alguma motivação egoísta geralmente está envolvida em nossa ajuda aos outros. Isto não é de todo mau. Ao ajudarmos crianças em uma creche ou alimentarmos os que têm fome, estamos agindo de maneira construtiva. Não há, inerentemente, nada de errado com o nosso desejo de sermos elogiados. Na verdade não tenho certeza se é realmente importante entender as motivações ou causas por trás dos atos altruísticos das pessoas, no final o que importa é o resultado dessas ações: ajudar os outros.

O problema, porém, é que não podemos contar sempre com os resultados que desejamos. Às vezes, podemos não receber o crédito que achamos que merecemos, ou nossas ações podem perturbar alguém que esteja lucrando com o sofrimento do próximo. Se baseamos a nossa boa vontade em ajudar as pessoas nas expectavivas de elogio e de reconhecimento, podemos abandonar nossos esforços assim que paramos de receber agradecimentos ou quando começamos a ser perseguidos por isso.

Se ajudo uma senhora a atravessar a rua mas ela sabe que só a estou ajudando porque quero que ela me inclua em seu testamento, ela corretamente não me verá como um altruísta, mesmo que eu seja atropelado por um caminhão e morra ao tentar ajudá-la. Quando alguém encontra um mendigo na rua, pode decidir dar dinheiro a ele para diminuir o próprio sentimento de estresse. Essa forma de doação não é, portanto, altruísmo puro, mas, na verdade, uma forma de egoísmo. O mesmo vale para um filantropo que faz caridade para ganhar reputação como caridoso.

Podemos nos testar fazendo um favor anonimamente para alguém por quem realmente tenhamos apreço. Geralmente quando oferecemos um presente, nos identificamos e assim sugerimos, mesmo que inconscientemente, que esperamos algum reconhecimento por nossa generosidade. Obviamente, isto não é um comportamento abnegado e incondicional, porque está baseado na glorificação pessoal. Ao mesmo tempo, se as pessoas forem estimuladas a se sentir desconfortáveis por não agir de forma altruísta, isso pode levá-las a mudar, olhar para os lados e ajudar os outros. Somente podemos passar no teste do serviço espontâneo, desinteressado, quando ajudamos alguém sem esperar elogios em troca, simplesmente felizes sabendo que fizemos a coisa certa.

2 comentários:

Lucas Stefano disse...

Ótimo post. Bastante reflexivo. Gostei muito. Me leva a pensarque existem famosos que só fazem caridade pra aparecer, pra se manterem vivos na mídia. Uma pena.

Anônimo disse...

gostei muito, realmente me fez pensar mais um pouco. tenho que fazer um texto sobre isso, agora posso olhar por esse lado também.