O vento invadia a sala com seu canto assobiado pelas frestas da janela semi-fechada. Lá fora o mundo se acabava em água, a chuva lavava os pecados daquela cidadela profana.
A vida passava diante de seus olhos, delicados e profundos como o cálice de uma flor, fixados no horizonte além da janela embassada; à espera dele, enquanto perfumava aqueles aposentos com a sua presença, um apartamento frio e solitário do primeiro andar.
A tempestade ainda castigava a cidade, mas parecia aos poucos acalmar. O mar, só no horizonte tão, tão longe e o Sol atrás das nuvens continuava a se abrigar. Sua pele, mesmo glabra, não hesitava arrepiar diante das memórias esparsas daquele que cuidava, amava e antes de tudo existia: Qual fora a última vez que vieste regá-la? Tão seca, nem sequer uma lágrima de tristeza podia se dar ao luxo de derramar. Cessa a chuva. A rua molhada reflete o céu, destino indefectível da viúva abandonada a própria sorte, aprisionada no próprio lar.
O sino da Igreja já batia, anunciando o fim (da tarde). Quantos minutos mais podia durar, a flor que agora em seus momentos finais só sabia amar? Tão forte o simbolismo dessa rosa sentimental só podia culminar num quadro surreal. O Pôr do Sol, a flor caridosa, o amor de uma rosa, a morte e o final.
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